Um Pouco de Tudo...

29 setembro 2012

Nós somos responsáveis pela vida que temos. Culpar os outros pelo que nos acontece é cultivar a ilusão.
A aprendizagem é nossa e ninguém poderá fazê-la por nós, assim como nós não poderemos fazer pelos outros. Quanto mais depressa aprendermos isso, menos sofreremos.

Zíbia Gaspareto

24 setembro 2012

Milagre



"Milagre é quando tudo conspira contra, mas Deus vem de mansinho e com um sopro leve muda o rumo dos ventos. Milagre é quando o incerto nos abraça depois de nos atingir cruelmente com sua fúria. É quando respirar vira quase um suspiro de alivio e a vida devolve o sorriso como forma de retribuição por todo sofrimento. É o instante teimoso que resiste bravamente a um duro percurso e mantém-se em pé amparado pela força divina. É a decisão que escapa de nossas mãos, mas que antes de cair agarra-se com toda força a uma segunda chance. Milagre é o improvável gesto de carinho que impulsiona o ser humano a não deixar de acreditar."

(Fernanda Gaona)

Desisti.



Desisti de salvar o mundo
quero salvar somente o dia
salvar a alegria do nosso encontro
então me preocupo em manter
a doçura do rosto
a leveza do traço
o balançar do corpo
meu corpo em teu abraço
então me despreocupo
me ocupo ao teu agrado
é isso que vale
o resto ao acaso"

Cáh Morandi


Livrai-me, Senhor
   de tudo o que for
   vazio de amor.
   E mais de quem não
   possui nem um grão
   de imaginação.
  
 Carlos Queiroz

23 setembro 2012

È preciso.




É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de actos,
a ideia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.


Cecília Meireles

Reticências



Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!

Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem - um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!

Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar,
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta,
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...


Álvaro de Campos

Voz do Outono



Ouve tu, meu cansado coração;
O que te diz a voz da Natureza:
Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,
Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devesa,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!
Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,
(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste" -

***Antero de Quental***

Deixa-la ir,



Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade...
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram...
Deixá-la ir, a vela que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul se levantaram...
Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
À morte queda, à morte silenciosa...
Deixá-la ir, a nota desprendida
Dum canto extremo... e a última esperança...
E a vida... e o amor... deixá-la ir, a vida!
     

                                             Antero de Quental

Aprendi...



Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até à noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.
Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.
Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.
Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.
Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.

Ana Akhmatova

A minha sombra.



A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

Almada Negreiros

Traumas



Trauma é a bagagem obrigatória que você carrega pela vida. Imagino ser aquela mala onde nos algemamos sem nem saber o que de fato está lá dentro. Há algum tempo comecei a me livrar destas bagagens,
atirando-as pela janela durante viagens solitárias. Estar só e conversar com Deus,
valeu tanto quanto nascer de novo. Sempre sobram algumas pequenas coisas que não conseguimos abandonar por egoísmo (ou sadomasoquismo). Ontem, mais uma pequena bagagem ficou pra trás, daquelas que nos fazem chorar vez em quando.

Camila Heloíse

15 setembro 2012

Lobo ou Galinha?



Pense em alguém que
seja poderoso...

Essa pessoa briga e grita
como uma galinha, ou olha
e silencia, como um lobo?

Lobos não gritam.
Eles têm aura de força
e poder.
Observam em silêncio.

Somente os poderosos,
sejam lobos, homens ou
mulheres, respondem a
um ataque verbal com o
silêncio.

Além disso, quem evita
tudo o que tem vontade,
raramente se arrepende
por magoar alguém com
palavras ásperas e impensadas.

Exatamente por isso, o primeiro
e mais óbvio sinal de poder sobre
si mesmo é o silêncio em momentos
criticos.

Se você está em silêncio, olhando
para o problema, mostra que está
pensando, sem tempo para debates
fúteis.

Se for uma discussão que já deixou o
terreno da razão, quem silencia mostra
que já venceu, mesmo quando o outro
lado em gritar a sua derrota.

Olhe.
Sorria.
Silencie.
Vá em frente.

Lembre-se de que há momentos
de falar e há momentos de silenciar.
Escolha qual desses momentos é o
correto, mesmo que tenha que se
esforçar para isso.

Por alguma razão, provavelmente
cultural, somos treinados para a (falsa)
idéia, de que somos obrigados a responder
a todas as perguntas e reagir a todos os
ataques.

Não é verdade!
Você responde somente ao que quer
responder e reage somente ao que
quer reagir.

Você nem mesmo é obrigado a atender
seu telefone pessoal.

Falar é uma escolha, não uma exigência,
por mais que assim o pareça.

Você pode escolher o silêncio.

Além disso, você não terá que se
arrepender por coisas ditas em
momentos impensados, como
defendeu Xenocrates, mais de
trezentos anos antes de Cristo,
ao afirmar:

"ME ARREPENDO DE COISAS QUE
DISSE, MAS JAMAIS DO MEU SILÊNCIO".

11 setembro 2012

Oração do Milho


Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu gão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal.
O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo.
Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paiois.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o carcarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde
SOU O MILHO

Fotos amareladas.



Lembre-se sempre que a pele se enruga
O cabelo se torna branco
Os dias se transformam em anos
Mas o importante não muda
A sua força e sua segurança não têm idade.
O seu espírito é o espanador de qualquer teia de aranha
Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida
Atrás de cada engano, há outro desafio
Enquanto estiver viva, sinta-se viva
Se fizer algo diferente, volte a fazê-lo
Não viva de fotos amareladas
Siga em frente ainda que todos esperem que desista
Não deixe que se oxide o ferro que existe em você
Faça com que, em vez de pena, tenham respeito por você
Quando, devido à idade não puder correr, ande depressa
Quando não puder andar depressa, caminhe
Quando não puder caminhar, use a bengala
Mas não pare nunca!

Camille Claudel

Lembrança.



"Creio que será permitido guardar uma leve tristeza e também uma boa lembrança; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades, nem odioso dizer que a separação, ao mesmo tempo, traz-nos um inexplicável sentimento de alívio e de sossego, mas também uma indefinível dor. É que houve momentos perfeitos, que passaram, mas não se perderam por que ficaram em nossas vidas e a lembrança deles nos faz sentir maiores, fazendo com que nossa solidão seja menos infeliz."


(William Shakespeare)

Descompasso.



"Ela lhe parecia tão bela, tão sedutora, tão diferente da gente comum, que não compreendia que ninguém se transtornasse como ele com as castanholas dos seus saltos nas pedras do calçamento, ou tivesse o coração descompassado com os ares e suspiros de suas mangas, ou não ficasse louco de amor o mundo inteiro com os ventos de sua trança, o vôo de suas mãos, o ouro do seu riso. Não perdera um gesto seu, nem um indício do seu caráter, mas não se atrevia a se aproximar dela pelo medo de desfazer o encanto."

(Gabriel García Márquez)

07 setembro 2012

UM MINUTO.



Um minuto serve para você sorrir:
sorrir para o outro, para você e
para a vida.
Um minuto serve para você ver o
caminho, olhar a flor, sentir o cheiro
da flor, sentir a grama molhada, notar
a transparência da água.
Basta um minuto para você avaliar a
imensidão do infinito, mesmo sem
poder entendê-lo.
Em um minuto você ouve o som dos
pássaros que não voltam mais.
Um minuto serve para você ouvir o
silêncio ou começar uma canção.
É um minuto que você dará o sim
que modificará sua vida... E basta.
Basta um minuto para você apertar
a mão de alguém e conquistar um
novo amigo.
Em um minuto você pode sentir a
responsabilidade pesar em seus
ombros: a tristeza da derrota, a
amargura da incerteza, o gelo da
solidão, a ansiedade da espera, a
marca da decepção e a alegria da
vitória.
Quanta vitória se decide num simples
momento, num simples minuto!
Num minuto você pode amar, buscar,
compartilhar, perdoar, esperar, crer,
vencer e ser...
Num simples minuto você pode
salvar a sua vida...
Num pequeno minuto você pode
incentivar alguém ou desanimá-lo!
Basta um minuto para você recomeçar
a reconstrução de um lar ou de uma vida.
Basta um minuto de atenção para você
fazer feliz um filho, um aluno, um
professor, um semelhante...
Basta um minuto para você entender
que a eternidade é feita de minutos.

(desconheço autoria).

Eu Gosto...



"Eu gosto de delicadeza, seja nos gestos,
nas palavras, nas ações, no jeito de olhar,
no dia-a-dia e até no que não é dito com palavras, mas fica no ar..."

Manuel Bandeira

O Vinho Solitário


O olhar singular de uma mulher galante
Que desliza para nós como o raio branco
Que a lua ondulosa envia ao lago trémulo
Quando quer banhar nele a beleza preguiçosa;
O último saco de escudos nas mãos de um jogador;
Um beijo libertino da magra Adeline;
Os sons de uma música enervante e carinhosa,
Semelhante ao grito distante da dor humana,
Tudo isto não vale, ó garrafa profunda,
Os bálsamos penetrantes que a tua pança fecunda
Reserva ao coração sedento do poeta piedoso;
Tu deitas-lhe a esperança, a juventude e a vida,
— E o orgulho, tesouro da indigência,
Que nos torna triunfantes e iguais aos Deuses!

Charles Baudelaire

Tempo Perdido.


Com o tempo que perdi demolindo muros
eu teria construído um castelo de amor para sonhar
se não tivesse perdido tanto tempo construindo muros
para depois tombar.
Com o tempo que perdi desfolhando mágoas
eu teria tempo de secar as lágrimas pelo que não fiz
se tivesse tempo para convencer o mundo que olvidar a pranto
também é ser feliz.
Com o tempo que perdi protegendo frutos
eu teria me encantado muito mais com o pomar
se não tivesse perdido tanto tempo espantando pássaros
que não ouvi cantar.
Com o tempo que perdi removendo espinhos
eu teria todo o tempo reservado para o meu jardim
se tivesse aproveitado a vida para ser melhor do que o lado pior
que há sepultado em mim.

Julis Calderón

Personagem.



Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto já me inquieta.
A arte de amar é exactamente
a de se ser poeta.
Para pensar em ti, me basta
o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.
O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto é que pensa
o olhar de todas as saudades.
Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silêncio, obscuro, disperso.
Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existência,
tudo - o espaço evita e consome:
e eu só conheço a tua ausência.
Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.

Cecília Meireles

Hoje...




Hoje soltei os pássaros
fechei a porta da gaiola
e voei com eles.
Fui-me embora...


Luísa Veríssimo

04 setembro 2012



Sê dono apenas do que podes transportar contigo;
Conhece línguas, conhece países, conhece pessoas.
Deixa que a tua memória seja o teu saco de viagem.


Alexander Soljenitsyn

A saudade


A saudade é simplesmente
Um claro espelho encantado;
mira-se nele o presente
e ele reflete o passado.

02 setembro 2012

Inscrição na Areia




O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!
Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?
O meu amor não tem
importância nenhuma.

Cecília Meireles

O Teu Olhar nos Meus Olhos




Sempre onde tu estás
Naquilo que faço
Viras-te agarras os braços
Toco-te onde te viras
O teu olhar nos meus olhos
Viro-me para tocar nos teus braços
Agarras o meu tocar em ti
Toco-te para te ter de ti
A única forma do teu olhar
Viro o teu rosto para mim
Sempre onde tu estás
Toco-te para te amar olho para os teus olhos.

Harold Pinter

EU NADA SEI.





Não sei escrever tudo o que sinto,
mas sei sentir e com um amor imenso
cada pedacinho da vida.
Não sei amar de morrer porque para
mim amar é viver.
Não sei sonhar todos os meus sonhos,
só sei sonhar o que meu coração pede.
Não sei dar tudo de mim, mas me esforço
para dar o que posso.
Não sei quase nada da vida, mas sei que
é bom existir.
Tudo o que eu sei é que a vida é linda e
que enquanto houver um mínimo de ternura
para oferecer, a vida vale a pena viver.

(Letícia Thompson).


Dançarina Espanhola



Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente.
Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.

Rainer Maria Rilke

Sonhando para o Inverno



No inverno, iremos num vagãozinho rosa
Com almofadas azuis.
Estaremos bem. Um ninho de beijos loucos repousa
Em todos os cantos macios.
Fecharás o olho, para não ver, pelo espelho,
As caretas das sombras noturnas,
Estas monstruosidades raivosas, grupelho
De lobos negros e demônios soturnos.
Depois sentirás a bochecha arranhada...
Um beijinho vai percorrer, como louca aranha,
De teu pescoço o canto...
E me dirás: "Procura!" inclinando a cabeça,
— E levaremos tempo para encontrar esta possessa
— Que viaja tanto...

Arthur Rimbaud

Idas e vindas.

 "Da velhice sempre invejei o adormecer no meio da conversa. Esse descer de pálpebra não é nem idade nem cansaço. Fazer da palavra um e...


"E que fique muito bem explicado. Não faço força para ser entendida. Quem faz sentido é soldado..."