Um Pouco de Tudo...

30 julho 2012

A uma mulher



Para vós são estes versos, pela consoladora
Graça dos olhos onde chora e ri um sonho
Doce, pela vossa alma pura e sempre boa,
Versos do fundo desta aflição opressora.
Porque, ai! o pesadelo hediondo que me assombra
Não dá tréguas e, louco, furioso, ciumento,
Multiplica-se como um cortejo de lobos
E enforca-se com o meu destino que ensangüenta!
Ah ! sofro horrivelmente, ao ponto de o gemido
Desse primeiro homem expulso do Paraíso
Não passar de uma écloga à vista do meu !
E os cuidados que vós podeis ter são apenas
Andorinhas voando à tarde pelo céu
- Querida - num belo dia ameno de setembro.

Paul Verlaine

Amar


Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui...além...mais este e aquele, o outro e toda a gente..
Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
durante a vida inteira é porque mente.
Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi prá cantar
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja minha noite uma alvorada,
que me saiba perder...prá me encontrar...

Florbela  Espanca

O Poço



Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
Pablo Neruda

Desesperança


Esta manhã tem a tristeza de um crepúsculo.
Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que penosa lassidão em cada músculo. . .
O silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento
Que dá medo... O ar, parado, incomoda, angustia...
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.
Assim deverá ser a natureza um dia,
Quando a vida acabar e, astro apagado,
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.
O demônio sutil das nevroses enterra
A sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra...
Minha respiração se faz como um gemido.
Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.
Por onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a meus olhos toma um doloroso aspeto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.
Vejo nele a feição fria de um desafeto.
Temo a monotonia e apreendo a mudança.
Sinto que a minha vida é sem fim, sem objeto...
- Ah, como dói viver quando falta a esperança!

Manuel Bandeira

"Um homem que não tenha nada pelo que ele ache que vale a pena lutar, nada que ele ame mais que a sua própria segurança pessoal, é uma criatura miserável".

 (Stuart Mill)





Já fomos tão felizes




Já fomos tão felizes,
Naquela idade de inconsciência,
Na idade em que tudo fazia sentido
Promessas, palavras, sinceridade.
De tudo tenho saudade.
Fomos vida,
Fomos apoio,
Fomos lembranças passadas
Lembranças e nada mais.
Hoje recordo-me de tudo o que me foram
De tudo o que me são,
Não creio ver uma imagem luminosa,
Vejo um rasgar de uma nova era
Um rasgar de comutação
Sempre soubera que chegaria o dia
O dia em que a imagem escurecia,
Em que desejaria retroceder
Em que me esforçaria,
E daria tudo o que podia
Para nada ver.
Sempre soubera que chegaria o dia,
Em que as lembranças vinham,
As recordações me abraçavam,
E as saudades me sufocavam.
Sempre soubera que chegaria,
Este dia…

Perdoa-me


Tu, que sempre me deste colo
Amor e carinho
E eu que sempre te reneguei (Como pude??)


Como reneguei teu sentimento
Tua pureza e veracidade


Perdoa-me por hoje ser tarde,
Perdoa-me por em vida te ter amado pelo fim,
Hoje carrego o peso
Este peso que persiste em mim


Perdoa-me todas as loucuras,
Todas as foças que te cavei
Todo o amor que em vida não dei


Perdoa-me

O teu rosto enrugado
Que saudades me trás
Trás saudades do tempo
Em que nunca fui capaz,


Capaz de te dar,
O que sempre, sempre me deste
Capaz de te pagar
O que tu por mim sempre fizeste


Cada “caramelo” que te levarei,
Será por todos aqueles que me deste e não dei
Estúpido meu ser,
Minha alma não perdoarei


Crucificar-me-ei
Por todos os pecados que pequei,
E só descansarei
Quando voltar a ver no teu olhar
Que ainda me amas…
…como eu nunca te amei!



Desconhecido.

Idas e vindas.

 "Da velhice sempre invejei o adormecer no meio da conversa. Esse descer de pálpebra não é nem idade nem cansaço. Fazer da palavra um e...


"E que fique muito bem explicado. Não faço força para ser entendida. Quem faz sentido é soldado..."