Um Pouco de Tudo...

22 maio 2013

Quantas



Quantas vezes te esperei neste lugar
quantas vezes pensei que não chegavas
quantas vezes senti a rebentar
o coração se ao longe te avistava.

Quantas vezes depois de teres chegado
nos colámos no beijo que tardava
quantas vezes trementes e calados
nos entregámos logo sem palavras.

Quantas vezes te quis e te inventei
quantas vezes morri e já não sei.

Torquato da Luz

No meu sono
ela flutua
a cada passo…
Nua
riscando o espaço
numa névoa de outono…
Apenas nos cabelos
um azulado laço…
E assim enlaço
a imagem sua…

Saúl Dias

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino —
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louco escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem

(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.


E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.

Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa

Umas e Outras




Umas vezes floresta, outras deserto,
umas vezes cetim, outras cotim,
umas vezes veludo, outras estopa.

Umas vezes de longe, outras de perto,
umas vezes princípio, outras fim,
umas vezes piranha, outras garoupa.

Umas vezes de noite, outras de dia,
umas vezes silêncio, outras ruído,
umas vezes o amor que me alumia,
outras vezes um ódio sem sentido.

Torquato da Luz

"Deixe que o vento leve o que não tem mais lugar. Mágoas, angústias, receios... Deixe que o vento lhe despenteie os cabelos, desarrume a rotina, desafie a mesmice. Deixe os sapatos do lado de fora e traga novos caminhos para dentro de si. Plante sementes de dias melhores, colha seus frutos, ignore os espinhos, abra a porta para o rumor que se aproxima e sinta: é a felicidade quem está chamando."
Flávia Brito


Idas e vindas.

 "Da velhice sempre invejei o adormecer no meio da conversa. Esse descer de pálpebra não é nem idade nem cansaço. Fazer da palavra um e...


"E que fique muito bem explicado. Não faço força para ser entendida. Quem faz sentido é soldado..."