Um Pouco de Tudo...

03 junho 2013


Há dois tipos de perguntas. Uma que precisa ser respondida e outra precisa ser vivida. Há perguntas práticas e perguntas existenciais. Perguntas práticas se contextualizam no horizonte da objetividade. Perguntas existenciais não provocam respostas imediatas. Viver é uma forma de respondê-las. É maravilhoso conviver com elas... 



Pe. Fábio de Melo 




"Viu  uma estradinha boba e sentiu que era por ali. Também acreditou. E foi caminhando pela estradinha boba, em direção àquilo em que acreditava. Era comum que nem a gente. A única diferença é que ele era um homem que acreditava."  

 Caio F. Abreu

"Chega um tempo na vida que a gente aprende que ninguém nos decepciona. Nós é que colocamos expectativas demais sobre as pessoas. Cada um é o que é e oferece aquilo que tem e pode oferecer."


Ana Jácomo


Eu sou forte… Sou uma lutadora arrojada!
Não tenho medo da morte,
Não tenho medo de nada!
Não cedo, tão cedo, ao que derruba os mortais.

Eu sou um desses seres especiais.
Que dá a mão a outra alma enfraquecida,
Que ajuda sempre a mais necessitada,
Que procura facilitar outra vida.

Com Amor e a troco de nada…
Mas eu troco quem sou,
E dou a dor que trago comigo,
Sempre que procuro um amigo.

Capaz de me renovar com magia,
De  devolver o meu sofrimento,
Mas transformado em energia.
Só nesse momento volto a ser EU!

Se é a ti quem procuro para me levantar,
É porque confio no teu poder,
Como te posso depois ajudar,
Se agora não me ajudas a sobreviver?

Fico mais triste quando percebo que aqueles em quem confio assim de verdade…
Não confiam o suficiente, nem neles, nem em mim!
Nem na nossa amizade!


Luisa Fonseca


"Hoje acordei inteira. Migalhas? Pedaços? Não, obrigada. Não gosto de nada que seja metade. Não gosto de meio termo. Gosto dos extremos. Gosto do frio. Gosto do quente (depende do momento.) Gosto dos dedinhos dos pés congelados ou do calor que me faz suar o cabelo. Não gosto do morno. Não gosto de temperatura-ambiente. Na verdade eu quero tudo. Ou quero nada. Por favor, nada de pouco quando o mundo é meu. Não sei sentir em doses homeopáticas. Sempre fui daquelas que falam "eu te amo" primeiro. Sempre fui daquelas que vão embora sem olhar pra trás. Sempre dei a cara à tapa. Sempre preferi o certo ao duvidoso. Quero que se alguém estiver comigo, que esteja. Mesmo que seja só naquele momento. Mesmo que mude de idéia no dia seguinte."


Fernanda Mello

Conta pra mim...


“Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem a sensação de que sempre esteve aqui, quando eu sei que não estava. Conta por que nada do que diz sobre você me parece novidade, como se eu estivesse lá, nos lugares que relembra, quando eu sei que não estive. Conta onde nasce essa familiaridade toda com os seus olhos. Onde nasce a facilidade para ouvir a música de cada um dos seus sorrisos. Onde nasce essa compreensão das coisas que revela quando cala. Conta de onde vem a intuição da sua existência tanto tempo antes de nos encontrarmos. Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem o sentimento de que a sua história, absolutamente nova, é como um livro que releio aos poucos e, ao longo das páginas, apenas recordo trechos que esqueci. Conta de onde vem a sensação de que nos conhecemos muito mais do que imaginamos. De que ouvimos muito além do que dizemos. De que as palavras, às vezes, são até desnecessárias. Conta de onde vem essa vontade que parece tão antiga de que os pássaros cantem perto da sua janela quando cada manhã acorda. De onde vem essa prece que repito a cada noite, como se a fizesse desde sempre, para que todo dia seu possa dormir em paz. Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem essa repentina admiração tão perene. De onde vem o sentimento de que nossas almas dialogavam muito antes dos nossos olhos se tocarem. Conta por que tudo o que é precioso no seu mundo me parece que já era também no meu. De onde vem esse bem-querer assim tão fácil, assim tão fluido, assim tão puro. Conta de onde vem essa certeza de que, de alguma maneira, a minha vida e a sua seguirão próximas, como eu sinto que nunca deixaram de estar. Conta pra mim por que, por mais que a gente viva, o amor nos surpreende tanto toda vez que vem à tona.”


Ana Jácomo



"Respiro aliviada e sugo o máximo de você, pra ter a certeza absoluta de que não é você. Não sonhei com você. Não quero passar minha vida ao lado da pessoa mais estranha do mundo. Imagina só ficar grávida de um homem que tem pavor de mulher com enjôo? Imagina só ficar velha ao lado de um homem que tem pavor da vida óbvia, cotidiana e imperfeita? Eu viveria infeliz.
Não é você. E lá vem você me perguntar porque é que estão todos casando, e falar pela trigésima vez que você vai acabar sozinho e não deve nada a ninguém. E lá vem você me olhar apaixonado e, no segundo seguinte, frio. E me falar para eu não sofrer e para eu ir embora e para eu não esperar nada e para eu não desistir de você. E eu me digo que não é você. (...)
Me despeço, já sem aquela dor aterrorizante, das partes de você que mais amo. Ainda que eu nem te ame mesmo. E me despeço das partes da sua casa que eu mais amo. Ainda que nada disso seja amor."


Tati Bernardi i

"Sei viver sem você, oficialmente falando. Mas eu não quero, não vou. Eu poderia te dizer aquelas doces mentiras sinceras - 'Você-é-minha-vida', 'Não-sei-o-que-seria-da-minha-vida-sem-você' ou todo esse tipo de porcaria que a gente diz no calor da hora. As pessoas são assim, dizem que não sabem viver sem você. Depois aprendem e esquecem de comemorar contigo. E deixam vazio o lugar que sempre será delas. Eu não, simplesmente estou aqui. De vez em quando sujo, entediado, agressivo, mal-humorado, triste, calado e chato. Mas aqui."


Gabito Nunes



Porque para mim sempre foi oito ou oitocentos, eu queria explicar. Porque sou extremista por natureza e ando fazendo uma força excepcional e sobrenatural pra não ir embora para sempre. Porque hoje me deu uma vontade louca de fugir de tudo isso tão nosso que ninguém mais pode dar e começar uma coisa nova. Mas nada. Olho para seus olhos meio tristes e o sorriso meia-boca conformado (seu, inteiramente seu) e dou o pior dos meus piores sorrisos. O sorriso que cala ao sentir a vontade consumista de gritar. E é só isso, nesses dois minutos parados. Nesse tempo em que estamos nos olhando como se tivéssemos algo nas mãos, e fôssemos totalmente responsáveis por isso que queremos jogar em qualquer canto e fingir que nunca existiu. E seguramos juntos toda essa manta que tecemos de mãos próprias para nos escondermos da rotina e que agora só consigo pensar em queimar. Em dar embora, jogar em qualquer latão na rua e correr.
Porque eu não sei conviver com a idéia do não-ter, é o que se passa na minha cabeça de quem pensa que viveu 17 anos em 127 dias. E de quem já cansou de tanto querer pessoas inatingíveis. Alguém me explica como parar de querer? E olha, isso é um saco, deixo também de dizer quando o que transparece nos olhos simplifica. Um suspiro imenso pra arrancar todo o ar do peito, daqueles mais fundos que se pode dar, tentando expulsar tudo o que ficou de você aqui dentro. Porque, que droga, eu não quero mais. Porque eu não sei fingir e sou só a doida de pedra que fala tudo o que pensa mas que cala quando vê seus olhos de tristeza. Que desiste só porque dói abandonar os olhos dotados da capacidade de me fazer largar todas as armas e auto-defesas de que preciso pra ser corajosa - pra ser eu mesma. E só fica o choro baixinho no escuro que ninguém vê e a vontade de se mudar para o Alasca. A falta é uma péssima companhia pra mim e o conformismo enfiado recentemente na minha cabeça é o que mais me deu medo até agora, em toda a minha vida. Você entende? Não, você não entende. Você é só o cara que gosta de me contrariar e que acha os fins as coisas mais normais do mundo. Não esse fim. Não o fim que poderia não ser o fim, compreende? Sem chances de eu tentar te explicar.
Afinal eu sou só a que tem vontade de correr mil e quinhentos quilômetros com a pseudo certeza de que esse tipo de pensamento jamais me seguiria. A que tem vontade de sumir, de se tornar invisível e voltar e recomeçar e inventar. A que adora sentar em cima das coisas que dão errado e ter pequenos surtos de amnésia só para recomeçar sentindo que, dessa vez, tudo dará certo. A que não sabe fingir, que não sabe mentir, que não faz social e nem pose de madame, a que não tem medo de mostrar quem é. Nem que isso afaste todos os seres vivos do planeta de perto de mim. E por incrível que pareça, o que mais me dá medo é querer deixar as coisas como estão entre a gente. Brincar como se isso não me matasse um pouquinho por dentro. Concordar com tudo num 'fazer-o-quê?' sempre mal-estruturado. Não, nao sou eu. Quem é essa estranha que te quer por perto mesmo com suas palavras mornas que nada amenisam o susto de perder? Quem é essa que tomou meu lugar, que acredita que o que vier é bom, que tudo isso é uma maravilha do jeito que está? Cadê eu nessa história?
Eu tô segurando o que construímos com as duas mãos e te olhando nos olhos como tarefa árdua. E você segura a outra ponta já esperando meu surto pré-determinado de ir embora com aquele sorriso que bem conheço de achar tudo sempre legal, tudo sempre bom como está. E eu quero gritar no seu ouvido que não tá legal, que nada disso pode ficar assim, e que eu jamais vou ser aquela que aceita tudo o que a vida joga no meu prato. A que não engole o que vier, a que reclama das coisas fúteis e de pessoas que mantêm o sorriso do 'fazer-o-quê?' entre as orelhas. E me dá a vontade de te sacudir e te mandar jamais ser morno de novo, jamais não esperar mais nada dos seus dias, jamais me deixar ir embora do jeito que eu tô querendo ir nesse exato momento. E como um boneco, uma estátua, você continua parado com olhos de ressaca e com toda essa coisa que jamais será amor e jamais será amizade nas suas mãos como se o tempo desse um desfecho perfeito em tudo. Chega! Eu quero ir embora! Eu sou intensa, sou maluca, e a única maneira que conheço de viver é sentindo como golpes todos os sentimentos de cuidado, carinho ou proteção que atiram contra mim. Ou eu amo e sinto, ou não me importa e não sinto. Mas morno é o que mata, ficar parada é o que destrói. Esperar eu não sei fazer, e não há santo que me ensine. Não peço mais nada, não cobro mais nada, não espero mais nenhum ato ou palavra de salvação pra gente. E essa é a parte de mim que desconheço. Conviver com uma estranha dentro de mim é trezentas vezes pior do que conviver com a sua mansidão diante da vida. E tudo isso é sobre mim, não sobre você.

Clarissa M. Lamega



"Não sei se as pessoas choram de forma diferente umas das outras, eu choro contraída, como se alguém estivesse perfurando minha alma com uma lâmina enferrujada, choro como quem implora, pare, não posso mais suportar, mas o insuportável é uma medida que nunca tem limite, eu chorei no domingo, na segunda, na terça, em várias partes do dia e da noite, um choro de quem pede clemência, de quem está sendo confrontado com a morte, eu estava abandonando uma vida que não teria mais, eu sofria minha própria despedida, morte e parto, eu tinha que renascer e não queria, não quero, sinto que caí num vácuo, perdi a parte boa da minha história, e não quero outra, enquanto choro penso que se alguém me visse chorar dessa maneira me salvaria, prestaria socorro, chamaria uma ambulância, eu nunca vi você chorar, você alguma vez chorou por mim, você sofre a minha ausência, sente minha falta? Estar sozinha nessa aflição me condói de mim mesma, é o labirinto do inferno, não há saída, não há saída, você não está me esperando lá fora, nem hoje, nem amanhã, você não vai fazer nenhum gesto para me resgatar, e se fizesse, eu não estenderia minha mão, e é isso que me faz descrer de tudo, eu sei que acabou, eu estava infeliz ao seu lado, eu estou infeliz sem você, mentira, eu era feliz ao seu lado, e nem sei se a palavra é essa, feliz. Felicidade é um resumo fácil, uma preguiça de investigar o muito mais que nos ergue diariamente, na época era o que me bastava, eu sabia onde estava e com quem, eu não estou infeliz, eu só estou perdida e não consigo mandar nenhum S.O.S., ninguém sabe onde estou, largaram meu corpo em cima dessa cama e ninguém me procura. "



Martha Medeiros

'Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.'



- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar? - É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.

E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim.

Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo... Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.

E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Antoine de Saint Exupéry in O pequeno príncipe

Idas e vindas.

 "Da velhice sempre invejei o adormecer no meio da conversa. Esse descer de pálpebra não é nem idade nem cansaço. Fazer da palavra um e...


"E que fique muito bem explicado. Não faço força para ser entendida. Quem faz sentido é soldado..."