Um Pouco de Tudo...

27 agosto 2011

Se eu pudesse viver minha vida novamente...




Deixei a roça sem saudades.
A saudade só vei muito mais tarde com a velhice.
A velhice é quando se sai em busca do tempo perdido... Não sei se a infância da minha memória é a infância acontecida ou é um desvaneio,ou talvez, um sonho de uma infância que eu gostaria de ter vivido.
Sonhar é uma forma de viver! Não sofri com a mudança, não me importava que a casa
para onde nos mudamos fosse uma caixa de fósforo, eu não sabia que ela era uma caixa de fósforo.
Menina, ainda não havia sido picada pela maldição da comparação, de uma casa confortável eu passei a viver em um ovo e ainda tinha que dividir minha cama com meus irmãos, todos juntos, meninos e meninas.
Mas eu não me importava, muito mais importante era que ela fosse na cidade grande, onde tinha luz e
coisas gostosas para comprar e comer, sem ter que plantar.
Eu me deslumbrei com as luzes da Ponte são Raimundo, ela era comprida e nunca que o carro conseguia atravessa-la... era pra mim uma viagem! O Rio Doce então... eu não conseguia visualizá-lo por completo com meus olhinhos azuis tão pequenos.O Pico do Ibituruna me causava medo, pois ele era tão alto que eu achava que aquela luzinha lá em cima fosse a entrada para o céu, eu olhava pra ela e agradecia a Deus por morar na cidade grande.
Mas a beleza mesmo estava na minha casa, eu admirava as lâmpadas e aquele fio pendurado no teto e que era só puxar e a luz acendia, ele era cheio de cocô de moscas. Eu passava horas admirando aquela luz tão clara, não era como a luz amarelada da lamparina, e nem tinha aquele cheiro de querosene velha.Os borrachudos gordos eram chamados de pernilongos "coisas de cidade grande". Adeus lamparina,adeus cheiro de querosene velha!
Eu agora não era mais a menina da roça, eu era uma moça da cidade grande!
Eu ia dormir mais cedo para aproveitar a luz da lâmpada, a luz azul...
Eu não tinha mais medo do "tchabrakova" um bicho papão que fazia com que eu e meus irmãos fossemos pra cama mais cedo.O pão francês... que delicia! Eu ia dormir pensando no dia seguinte, no pãozinho que era só pegar na padaria do Moisés. Minha mãe comprava manteiga naquelas latas grandes "manteigas Matarazzo". A televisão em preto e branco era a nossa maior diversão, todos sentávamos para
assistir a novela da extinta tv tupi, "Meu Rico Portugês".
Mas o tempo passou e as coisas foram mudando, uma mudança com a qual eu não havia sonhado, passei de uma menina da roça para uma mulher que tinha sonhos diferentes que não eram aqueles de montar a cavalo e sair correndo pelos pastos.
Passei a conhecer o dinheiro e descobri que eu precisava dele, pois ao contrário da vida na roça, na cidade grande tudo tinha que pagar, foi quando eu descobri que haviam me enganado, que nunca tinham me contado a verdade sobre a  cidade grande!
Passei a viver como gente grande...gente que morre um pouco a cada dia, ninguem fala com ninguem e nem tem tempo para ouvir ninguem.
Na cidade grande a gente paga uma pessoa pra nos ouvir, e quando a nossa hora termina essa pessoa simplesmente interrompe o seu desabafo e te manda sair... sua sessão acabou!
Mas que sessão? lá na minha roçinha não tinha sessão...
Acordei atônita com o toque do meu celular, abri os olhos para mais um dia da minha nova vida, a triste realidade da cidade grande!

Foi então que senti saudades da roça...

    Juanamelbh.

Idas e vindas.

 "Da velhice sempre invejei o adormecer no meio da conversa. Esse descer de pálpebra não é nem idade nem cansaço. Fazer da palavra um e...


"E que fique muito bem explicado. Não faço força para ser entendida. Quem faz sentido é soldado..."